A melhor "pelada" do mundo

 A melhor "pelada" do mundo

 Da coletânea “Lampejos da memória"

Por Jabert Diniz Júnior - Santarém, Pa

Campo de terra batida do Parque da Cidade de Santarém: semelhante ao campo do D.E.R. em Belém. 

Como grande parte dos brasileiros, eu também sou um aficionado pela prática do futebol. Desde criança, dentre todas as brincadeiras de infância (e olha que eram muitas), o futebol era a minha preferida. Literalmente, eu dormia abraçado à minha bola “Canarinho”, presente que havia ganho do meu pai, uma bola vermelha com uma figura do Pelé, o "Rei do Futebol". Dormia, já torcendo para amanhecer o dia seguinte, para brincar novamente. Eita infância paidégua foi aquela. Com essa bola, brincava com meus amigos de infância nas ruas e praças da minha cidade, Alenquer: Kleber, Jader, Joaquim, Daniel, Raul, Rivail, Paulão, Amiraldo, Fran, Omar Augusto, Luiz Aníbal, Cassete, Zé Júlio, Dodô, Mazote, Macarrão (Zezinho), Diquinho, Canário, Antônio Sena, (Macaco), Guto (meu irmão) e tantos outros moleques da vizinhança.

Bola Canarinho

Porém, com quinze anos recém-completados e recém-chegado à capital do Estado do Pará, onde iria viver pelos meus próximos vinte e um anos, fui jogar futebol pela primeira vez em Belém, num campo de terra batida, atrás do antigo D.E.R, (Departamento de Estrada e Rodagem), hoje, Secretaria de Estado de Transporte (SETRAN), órgão localizado à avenida Almirante Barroso, em frente ao Hospital de Aeronáutica.

 
Local onde ficava localizado o Campo do D.E.R. - depois deu lugar a um resiencial.

Para chegarmos ao dito campo, saindo do conjunto Império Amazônico - onde morei por 18 anos -  entrávamos em uma passagem próxima à panificadora Vilpan, atravessávamos uma tortuosa viela, conhecida carinhosamente pela galera como "cocolândia", depois pelo conjunto Amapá, após ter cruzado a passagem Pires Franco. Era um campo de terra, com dimensões que permitia jogar com o número regular de jogadores, onze contra onze. Era cercado por um matagal, e um tantinho irregular.

 

Conjunto Império Amazônico, Belém, Pará.

Às quatro horas da tarde de uma segunda-feira, dirigimo-nos para o campo e, já no trajeto, meu irmão Zé Jorge (Laranjito, como era o seu apelido lá, em referência ao simpático mascote da Copa do Mundo de 1982) e eu. Sempre muito cordial e amável, como ele sempre foi com todos os irmãos, mais especialmente comigo, naquele momento, por estar recém-chegado para morar com ele e meus outros irmãos, ele foi me alertando sobre o funcionamento e regras da “pelada do D.E.R”., que, naturalmente, eu não estava acostumado.

Laranjito ou Naranjito: Mascote da Copa do Mundo da Espanha 1982

Sobre a principal regra, que era a forma de escolha dos atletas para formar as equipes, ele falou o seguinte: “Se te perguntarem em que posição tu joga e tu disser que joga em qualquer posição, tu não vai “pegar vaga”. Fissurado em futebol, sim, mas nunca tinha me atentado em que posição eu me enquadrava, até porque, na minha cidade de origem, não me lembro de ter jogado em um campo de futebol de tamanho oficial. Sem contar que, o futebol que andava praticando nos últimos meses era o futebol de salão na quadra do Xeque-mate, em Alenquer. 

Então, não sabendo muito em que posição eu poderia atuar, decidi que ia dizer que jogava de lateral direito, uma vez que o futebol que inspirava aquela geração era o futebol da seleção brasileira de 1982, e um dos jogadores que eu mais admirava era o lateral direito daquela seleção, Leandro, que era também jogador do Flamengo.

Ao chegar ao local, que não demorou nem três minutos, já decidido onde iria jogar, me deparei com o campo já lotado... e chegando mais gente. Era uma segunda-feira de julho, verão de Belém, sol a pino, uma galera jovem em plenas férias escolares, moradores do conjunto Império Amazônico, do conjunto Amapá e das redondezas. Seria a primeira pelada de muitas com uma galera marcante entre os quais, meus dois irmãos mais velhos Zé Jorge (Laranjito) e Douglas. Foi quando conheci e passei a conviver com: Cesão (um rockeiro de carteirinha), Éder, Totó Cara de Puta, Paulinho, Haroldo, Milton, Júnior, Leandro, Jorge, Barata (ex-guitarista da banda Warilou), Piquiá, Quinho, Bolão, Vivico, Donde, Jamil, Átila, Canela de Vidro, Sileno, Boy, Maklin, Oscar, Edu, Dez, João, Arlindo, Cícero,  Tio, Paulinho Catitu, Múmia, Alverlan, Carlinhos do Lima, entre muitos outros.

Tudo pra mim ali era novo, diferente, inclusive, nesse caso, como era feita a escalação dos times nessa pelada. A escolha dos times era uma atração à parte. Os quatro atletas que iriam formar as quatro equipes se distanciavam do restante do grupo e cada um, numa sequência determinada, escolhia um jogador para o seu time, que iam anotando o nome ou apelido (geralmente, apelido), no chão. Quando terminava a seleção das quatro equipes, os atletas iam ver para qual time tinha sido selecionado e em qual sequência estava seu nome, uma vez que, o fato de ter sido escolhido entre os primeiros significava que o atleta estava sendo bem cotado, com moral. Já se estivesse lá pelo final da lista.... hummm.. significava que o sujeito era meio perna de pau... rss.

Nesse meu primeiro dia de pelada, onde ninguém ainda me conhecia, com vários atletas já escolhidos e anotados no chão, um dos camaradas que estava escolhendo os atletas para o seu time grita de lá de onde estavam: “Ei, tu aí, irmão do Laranjito, em que posição tu joga?”. Nem titubiei e, já orientado pelo meu irmão, logo respondi: “Lateral, lateral direito”. E o sujeito, até então desconhecido para mim, como também não sabia meu nome, me deu, então, um apelido, dizendo: “Já que tu é irmão do Laranjito, tu vai ser o 'Tangerina'”.  E fui escalado para a posição, onde, a partir daquele dia, 18 de julho de 1983, com 15 anos, comecei a jogar aquela pelada do D.E.R., entre uns camaradas que eram mais velhos do que eu, como lateral direito. Então, por diversas razões, principalmente pelo fato de, pela primeira vez, jogar bola junto com meus dois irmãos mais velhos, passei a considerar a pelada do D.E.R a “melhor pelada do mundo”.

 

Meu grande irmão José Jorge, o "Laranjito", que retornou para Alenquer ainda na década de 1980, onde é comerciante e proprietário da "Lojinha dos Plásticos", localizada na Rua Rosomiro Batista. 

Um encontro com o ex-atleta do D.E.R. Vivico, que há muito tempo mora em Santarém e tem uma Oficina de Lanternagem (Oficina do Baixinho) na Rua Magnólia.


Comentários

  1. Padrão texto autoridade. É muito legal relembrar um período da vida que ficou marcado e que em certa medida nos faz pensarmos na nossa própria infância e adolescência.Parabéns.

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