Internacional, o povo de Alenquer te aclama...

Fonte: https://historiadofutebol.com/blog/?p=130718







 

Jabert Diniz Júnior

Localizada no norte do País,  Alenquer é um município brasileiro do estado do Pará, pertencente à Mesorregião do Baixo Amazonas, bem no coração da Amazônia, distante da capital, Belém, cerca de 701 km.

De acordo com o Censo do IBGE de 2022, a cidade conta hoje com uma população de 69.377 habitantes. 

Os alenquerenses são também chamados de “ximangos", em alusão a uma ave de rapina originária da América do Sul, semelhante a um falcão, que havia em abundância nas margens do Rio Surubiú quando a cidade ainda era uma aldeia.

Num passado não tão distante, o futebol era o esporte que mais atraia a população alenquerense para o seu templo. O templo, nesse caso, era o Estádio Heriberto Batista, o "Heribertão",  o estádio municipal que já fora palco de jogos memoráveis, fossem os clássicos entre as duas agremiações principais da cidade (Aningal x Internacional), ou jogos destas com as principais equipes da capital: Remo e Paysandu.

Aningal x Internacional: O clássico Ximango que, aos domingos, fazia a torcida lotar o "Heribertão" em Alenquer-Pa.

O Estádio Heriberto Batista era uma simpática arena destinada aos jogos de futebol de Alenquer e que, na década de 1970, tinha um excelente gramado que era elogiado até pelos grandes clubes da capital.

Antigo portão de entrada do Estádio Heriberto Batista. Somente as lembranças dos tempos de glórias do futebol ximango.
Fonte: https://www.facebook.com/photo.php

A atração que o ximango tinha pelo esporte bretão pode ter diversas razões, mas, certamente, entre os principais motivos, está o fato de, naquela época, o futebol alenquerense receber uma grande atenção e incentivos das autoridades municipais e, de quebra, sem exagero algum,  Alenquer ser um verdadeiro celeiro de grandes jogadores, o que tornava os jogos de futebol uma excelente opção de divertimento da cidade.

Estádio Heribertão - O templo do futebol Ximango. Hoje, em péssimas condições, refletindo a decadência do futebol ximango e o descaso das autoridades municipais.
Fonte: https://www.facebook.com/photo.php

Jogadores que despontaram no cenário nacional como Cabecinha, que, jogando pelo Sampaio Corrêa do Maranhão, chegou a ter um de seus diversos gols considerado o mais bonito do Fantástico e Antenor Matos de Carvalho, o Bigurrilho, o craque que brilhou no futebol Santareno, além de vários outros atletas que poderiam ter jogado em qualquer equipe nacional, como: Laurinho, Kita, Careca, Cumba, Dedé, Pau Seco, Natal, Miranda, Guimarães e muitos outros, abrilhantavam as tardes de domingo no templo do futebol ximango.

Cabecinha: O craque Ximango que despontou no futebol maranhense. Em 1981, com um golaço sobre o Cruzeiro (MG), foi o artilheiro do Fantástico.


Golaço de Cabecinha contra o Cruzeiro. O gol da rodada do Fantástico. 

Na segunda metade da década de 1970, uma das agremiações ximangas se destacou por se aventurar no futebol profissional. Foi o Esporte Clube Internacional, que em 1977 disputou o campeonato paraense da primeira divisão pela primeira e única vez.

O clube não foi bem na competição, isso é bem verdade. Mas ximango nenhum pode negar que foi uma participação histórica da agremiação do bairro da Luanda.

O Internacional ficou no Grupo "C" da competição, juntamente com o Comercial de Belém, a Tuna Luso Brasileira, também da capital, Santarém e Altamira.

O clube alenquerense estreou no campeonato, em casa, no dia 22 de maio de 1977, contra o Santarém, perdendo o jogo por 2x0.

No dia 31 do mesmo mês, também no Heribertão, empatou em 1x1 com o Altamira.

No dia 05 de junho, o Internacional enfrentou a Tuna Luso Brasileira, que era um dos três grandes times da capital. Mais uma vez o plantel Ximango não foi bem. A Tuna impôs seu ritmo e decretou mais uma derrota para o time alenquerense: Internacional 0 x 2 Tuna.

No dia 12 de junho, véspera da festa do padroeiro da cidade, Santo Antônio, foi a vez do Comercial, outro clube da capital, se impor diante da agremiação luandense e vencer o Internacional por 1x0. 

Terminando esta fase na última colocação na chave, o Internacional foi, então, para uma repescagem, mas novamente não teve bom rendimento. Entretanto, foi quando teve seu melhor momento, conseguindo a façanha de empatar com o poderoso Clube do Remo, time que foi o campeão paraense daquele ano.

Então, nesta fase de repescagem, no dia 26 de junho, o Inter perdeu pra mais um time de Belém: Internacional 1×2 Liberato de Castro, em Alenquer.

No dia 10 de julho, ocorreu a grande façanha do rubro-negro alenquerense. Em pleno Heribertão, diante de um grande público, o Inter, jogando um grande futebol, empatou com o temível Clube do Remo em 0x0.

Mas, no dia 13 de julho, na cidade de Santarém-Pa, no estádio Elinaldo Barbosa o Internacional voltou a perder para o Santarém por 2x0.

E, finalmente, no dia 17 de julho, de 1977, a agremiação ximanga, encerrando sua única participação no campeonato paraense de futebol profissional, perdeu para o Altamira, na cidade de Altamira-Pa, pelo placar de 1x0.

Apesar de não ter conseguido nem uma vitória sequer no campeonato, voltamos a dizer: foi uma participação histórica da única equipe ximanga a fazer parte da Elite do futebol paraense, merecendo todos os aplausos dos amantes do bom futebol, de uma época em que o esporte era praticado com amor. 

E vale relembrar, também, que, um ano antes da participação na competição estadual do clube alenquerense, o Heribertão, que tinha um dos melhores gramados do Estado, foi palco do confronto amistoso entre o próprio internacional e Paysandu. Esse jogo ocorreu no dia 27 de abril de 1976, uma terça-feira. 

Foi um jogo histórico, porém, foi uma derrota fenomenal do esquadrão Ximango para a poderosa equipe Bicolor da Capital que, com gols de Patrulheiro (2), Tuíca Peito de Aço, Francisco e Bira, aplicou uma esplendorosa goleada de 5x0 no Internacional. O jovem goleiro Guimarães sofreu nesse dia. O detalhe desse jogo é que eu testemunhei o aperreio do amigo Guima, pois, com apenas oito anos de idade, eu estava bem atrás do seu gol, assistindo ao espetáculo. 

Esporte Clube Internacional de Alenquer-Pa -1976: em pé: Guimarães, Inácio, Tote Onça, Erivan Sobral, Pau Seco, Adalberto e Campos, o técnico. Agachados: Reis, Laurinho, Bigurrilho, Balico e Tiboca.


Paysandu em 1976: Reginaldo, Paulinho, Waltinho, Dias, Willy e Joaquim; Agachados: Tuíca, Patrulheiro, Valfrido, Bacuri e Nílson Santos.
Fonte: https://www.facebook.com/lembradoboleiro/posts/paysandu-em-1976

O Esporte Clube Internacional foi fundado no dia 10 de março de 1956. Sua sede social está localizada na Rua Visconde do Rio Branco, no bairro da Luanda.

Os cidadãos ximangos fundadores do clube foram os senhores: Gérson Melo, Jacob Athias, Cyro Salomão, Juracy Cordeiro, José do Valle, Juarez Amorim Rebello e Benedicto Monteiro.

Sede social do Esporte Clube Internacional - Alenquer-Pa.

Conta a lenda que, na realidade, esta data foi uma reinauguração,  pois o Internacional já existia e sua antiga sede ficava na Avenida Pedro Vicente.

E o ressurgimento do clube deu-se por um tipo de retaliação de alguns integrantes do clube União Esportiva, descontentes com a rigidez e a tradição desta agremiação, que não permitia a entrada em sua sede social, entre outros, de negros, pobre, filhos de mãe solteira, do próprio jogador de futebol e pessoas com vestimenta inadequada. 

Evidentemente, os fundadores do Internacional não deixaram e nem foram impedidos de frequentar a sede do União Esportiva sempre que o desejassem, até porque faziam parte da elite local.

E, ao mesmo tempo, com a criação de um clube "mais democrático", ganhavam a simpatia do povão, o que poderia ser muito bom para quem ambicionasse eleger-se para cargos políticos da cidade, ou, quem sabe, do Estado.

Título de sócio-proprietário do Esporte Clube Internacional, do ilustre Ximango sr. Abrahão Fima.
Fonte: Max Fima, filho do senhor Abrahão. 

É de autoria do escritor e político ximango Benedcito Monteiro o hino do Esporte Clube Internacional.

Nascido em Alenquer,  no dia 1⁰ de março de 1924, Benedicto Monteiro faleceu no dia 15 de junho de 2008. Bacharel em Ciências Jurídicas, exerceu os cargos de Promotor Público, Juiz de Direito e Secretário de Estado. Foi eleito Deputado Estadual e foi cassado em 1964, pela famigerada ditadura militar.

O belo hino caiu caiu no gosto popular e não tem alenquerense, onde quer que se encontre, que não o cante, especialmente, nos bailes de carnaval, inclusive nos clubes "adversários", como União Esportiva e Aningal Atlético Clube. 

Hino do Internacional 

Autor: Benedicto Monteiro 

Internacional

O povo de Alenquer te aclama.

És o ideal que a era do porvir reclama

Para construir a nossa grande sociedade,

Num clima de compreensão

Onde a separação seja só

Entre o bem e a maldade.

Nosso clube não separa

Rico, pobre ou doutor,

Nosso clube prestigia

O homem trabalhador,

Nosso Clube quer progresso

E harmonia social,

Nosso Clube é do povo

É o Internacional 

*******************



Caríssimo leitor, obrigado por chegar até aqui. Caso tenha gostado da historinha, já sabe, COMPATILHE com os amigos e, quando desejar e achar justo contribuir financeiramente com qualquer valor (Espero que logo! rs), nosso PIX é: 93991289247.

Apoio


Comentários

Crônicas mais visitadas

Histórias de Santarém: uma artesã, um homicídio e uma execução.

No dia em que saí de casa

VI Jogos dos Servidores da Ufopa 2023 - FINAIS

VI Jogos dos Servidores da Ufopa 2023

Esqueceram de mim?

A Ponte dos Sonhos

O Cagão