No dia em que saí de casa

“No dia em que eu saí de casa”

Da coletânea “Lampejos da Memória"

Por Jabert Diniz Júnior

Era dia 13 de julho de 1983, uma quarta-feira, véspera de eu completar 15 anos, quando deixei minha cidadezinha do interior. Na noite anterior, 12 de julho, minha mãe, dona Eliete, amante de festas de aniversário, como era também meu avô, Dr. Zé Hage, pai dela, falecido dois anos antes, não podia deixar de comemorar data tão significativa para os pais, especialmente para uma mãe - os quinze anos de um filho - o quinto de uma prole de seis -, que estava se despedindo para ir morar na capital do Estado com outros três irmãos mais velhos que lá já se encontravam há alguns anos, em busca, provavelmente, de um “futuro melhor”.

Foi uma singela, mas significativa, comemoração - de aniversário e de despedida -, que ficou muito viva na minha memória, mas que também foi registrada com fotografias (que guardo até hoje) e teve a presença de algumas pessoas muito queridas da minha família.

O dia da despedida: Pequena reunião realizada por Dona Eliete, contando com a presença de alguns amigos e familiares - Destaque para a primeira foto, onde se encontram meus pais, minha Avó Niquita e meus irmãos Guto e Ana Paula.

Vale ressaltar que no dia 14 de julho, no dia posterior ao dia que saí de casa, portanto, meu pai também comemoraria aniversário, quando ele faria 48 anos, já que nasci exatamente no dia em que ele completou 33 anos. E minha mãe, em dezembro daquele mesmo ano, completaria apenas 41 anos.

Mas, voltemos ao dia 13 de julho de 1983, há quarenta anos, portanto. A viagem seria à noite. Àquela época, somente os barcos, que eram de madeira, faziam linha para Santarém (Antonico, Santa Maria e Dolimar) e partiam à noite, todos, quase no mesmo horário. De Santarém, pegava-se um voo para Belém do Pará nas antigas companhias de aviação VARIG ou VASP.

O barco da preferência dos meus pais era o “Antonico”, de propriedade do seu Ivan Nunes, grande amigo deles. E foi nele que viajei.

Assim, embarcamos, minha irmã caçula e eu (ela iria somente passar as férias de julho) e o Antonico partiu no seu horário habitual, às dez horas da noite, para chegar em Santarém por volta de três horas da manhã. De lá, pegaríamos um táxi para o aeroporto internacional maestro Wilson Fonseca, distante  aproximadamente quinze quilômetros do centro da cidade.

Para trás - não sabia quando retornaria - estava deixando, em primeiro lugar, meus pais, mas também, outros dois irmãos, meus amigos de infância, de escola, de futebol e de “copo”, já rs.., e minha cidade, com todos os seus defeitos e virtudes (na minha cabeça, eram só virtudes rs).

Era uma mistura de sentimentos que perdurou, dos dias que antecederam a viagem até alguns dias que a sucederam. Esperança, ansiedade, medo, saudade, enfim, tudo que um adolescente de 15 anos poderia sentir numa situação dessa. Veria meus irmãos “de Belém”, o que era maravilhoso. Que escola iria estudar? (estava no meio da 8ª série). Que dificuldades teria? Que amigos encontraria? Suportaria viver longe, pela primeira vez, dos meus pais?

 


Sinceramente, não lembro bem o que fizemos depois que o barco chegou a Santarém, já que o avião, que levava pouco mais de uma hora de viagem para Belém, chegou somente à noite lá. Acredito que ficamos no barco, mesmo.

Voar de avião não me era exatamente uma novidade, já que meu avô materno, Zé Hage, já tinha me proporcionado essa experiência alguns anos atrás, (mais especificamente,  em dezembro de 1978, quando ele e a vó Niquita, nos levaram, todos os netos, para umas férias em Belém). Porém, naquele momento tudo era muito mais emocionante.

E a chegada à capital do Estado do Pará foi outro momento repleto de emoção. Primeiro o medo, porque agora era real, estava longe do meu pai e de minha mãe e não sabia quando iria vê-los novamente. Mas, também, uma mistura de ansiedade, felicidade e esperança, quando lembro de, da janela do avião, ver a “bela morena” Belém com toda a sua iluminação noturna. Acredito que eram umas oito ou nove horas da noite. O coração estava a mil por hora.

Avião no solo, Aeroporto Internacional de Val-de-Cans, Belém-Pa - naquele tempo ainda não era padrão “shopping center” - desembarcamos e esperamos para ver quem teria ido nos buscar.

Aeroporto de Val-de-Cans, décadas de 70/80.
 

Minha tia Arlete, irmã mais nova da minha mãe, que, depois de nos dar as boas vindas, nos conduziu para o seu carro, um Volkswagen Variant cor de abacate. Ver minha tia, que era muito parecida com a minha mãe, talvez tenha sido um alento, me deixando mais tranquilo.

 

Volkswagen Variant cor de abacate, semelhante ao da tia Arlete

Já no carro, minha irmã e eu fomos conduzidos por minha tia para “minha nova casa”. Saímos do aeroporto pela Avenida Júlio César, atravessamos a avenida Pedro Álvares Cabral e, após passar ao lado do aeroporto Júlio César e do Colégio Rêgo Barros (escola que viria terminar meu ensino fundamental - primeiro grau na época), acessamos a avenida Almirante Barroso no contorno da Praça São Cristóvão, próximo ao Quartel da Aeronáutica, indo fazer um retorno na avenida Tavares Bastos (naquele tempo isso era possível), para, então, entrarmos no Residencial Império Amazônico, um enorme conjunto de 16 blocos, cada um com dezenas de apartamento, situado à avenida Almirante Barroso, no bairro do Sousa, quase em frente à sede social e estádio da Tuna Luso Brasileira, por trás da antiga fábrica da Antárctica.

Belém-Pa, com destaque para o Conjunto Império amazônico

Finalmente, vinte e quatro horas após ter saído de Alenquer, minha terra querida, estava em “casa”, um pequeno apartamento de dois quartos no segundo andar do Bloco 11 do conjunto Império Amazônico, há pouco tempo adquirido pelos meus pais. Ao entrar no apartamento, mais uma vez, me emocionei, desta vez, por ver meus “jovens irmãos mais velhos”: Glads, Douglas e Zé Jorge, que não lembro há quanto tempo não os via. Aquele dia era o primeiro de tantos outros ao longo dos vinte e um anos vividos na capital do Estado do Pará, com idas a Alenquer em intervalos, inicialmente, de dois em dois anos, passando, necessariamente, por Santarém, a cidade onde hoje moro e aprendi a amar, também, já há dezenove anos.

Entrada do Conjunto Império Amazônico

 

Se você gostar das nossas crônicas e quiser contribuir financeiramente, com o blog, nosso pix é: 93991289247. Contribua o quanto puder. Seremos muito gratos. 

PATROCINADORES

 



Comentários

  1. Parabéns pelo emocionante relato grande colega Jabert. Primeiro quero agradecer por compartilhar um pouco dessa história corajosa de seus pais. Sei que não deve ter sido fácil essa separação, mas tudo foi em prol de contribuir para a realização de proprcionar aos filhos uma vida melhor e mais oportunidades. Fico no aguardo do restante dessa saga e por te conhecer um pouco, sei que foi vitoriosa! Segundo, deixo minha gratidão de público por sua acolhida quando cheguei pela primeira vez na Ufopa. Sua prontidão em me receber jamais será esquecido. Sucesso grande Jabert e que sua jornada seja longa e gloriosa!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O Cagão

Final dos Jogos dos Servidores da Ufopa 2024

Jogos dos Servidores da UFOPA 2024