A Ponte dos Sonhos
Por Jabert Diniz Júnior
Ponte "visionária" imaginada por Cardosinho, ligando Santarém a Alenquer. Fonte: Jornal de História de Alenquer. |
Em busca de uma boa leitura diária, um hábito adquirido já há bastante "tempo", e em "tempo", para que não percamos "tempo" com tantas distrações inúteis disseminadas nas redes sociais, encontrei um texto bem interessante. Procurava por crônicas, minha leitura favorita. E, para minha surpresa, a que encontrei não foi uma boa crônica.... foi, sim, uma excelente crônica. Um texto do meu amigo e conterrâneo Silvan Cardoso, um "grande" da cultura Alenquerense, ainda que seja tão jovem.
E o tema da crônica não poderia ser mais interessante e atual. A ideia de uma ponte que ligasse a margem esquerda à margem direita do Rio Amazonas, mais especificamente, uma ponte que desse acesso direto da cidade de Alenquer a Santarém. Um sonho de todo Ximango e, certamente, de muitos Mocorongos que, ainda hoje, pode soar como uma coisa de louco, algo extremamente utópico, um feito inalcançável. Mas, pelo que contou Cardosinho, já passava pela cabeça de alguns conterrâneos de gerações passadas.
Na crônica, intitulada "A Ponte Alenquer-Santarém", Cardosinho, como me refiro ao amigo Silvan - um imortal da Academia Alenquerense de Letras - AAL, ocupante da cadeira 19 -, conta que, casualmente, enquanto, certo dia, caminhava pela orla de Santarém, ao se aproximar do Centro Cultural João Fona, escutou em uma conversa entre três cidadãos, o nome "Alenquer".
A palavra Alenquer por ele escutada, aguçou-lhe a curiosidade. Por conta disso, resolveu ficar ali por perto para saber do que a prosa entre os três sujeitos se tratava, uma vez que citaram o nome de sua cidade natal.
Os três cidadãos, segundo Cardosinho, pareciam ter idade entre 50 e 60 anos e, pela vestimenta, segundo suas palavras, aparentavam ser pessoas bem sucedidas financeiramente, além de, perceptivelmente, usarem bem a língua portuguesa, isto é, falavam de forma culta.
Seriam cidadãos ximangos?, perguntou-se Cardosinho, uma vez que o assunto que abordavam naquele momento referia-se a acontecimentos da cidade de Alenquer.
Como os cidadãos não falavam em tom baixo, significando que não se tratava de nenhum assunto confidencial, Cardoso resolveu encostar-se na grade de proteção da orla, apreciar a bela paisagem da Pérola do Tapajós e, disfarçadamente, escutar a conversa dos homens.
Comentavam eles:
"- Imagina que o Edson Macedo tinha um projeto bem ousado naquele tempo em que Alenquer fez 100 anos de elevação à categoria de cidade”, disse um deles, que era careca.
- E qual seria esse projeto tão ousado?, perguntou o outro, que usava óculos escuros.
O careca olhou para o horizonte sobre o Rio Amazonas com o Rio Tapajós, apontando com o dedo, e os outros dois o acompanharam. Observaram bem a imensidão do encontro dos dois rios. O careca continuou dizendo:
- Imagina que o prefeito de Alenquer queria fazer uma ponte que ligasse sua cidade a Santarém. Ouvi-o dizer isso. Mas não sei o que aconteceu depois, pois não soube mais de nada desse assunto."
Após ouvir por mais algum tempo a conversa entre aqueles três cidadãos que, ao que parece, mais se divertiam com aquelas ideias visionárias do então prefeito de Alenquer, que fora um tanto, digamos, folclórico, na cultura popular ximanga, Cardosinho ficou imaginando como poderia ser essa curiosa ponte que permitiria que veículos como motocicletas, carros, caminhões e ônibus chegassem mais rapidamente de Santarém a Alenquer e vice-versa, sem passar pelo transtorno de embarque e desembarque nos ferry boats que fazem linha direta para Alenquer, ou para Santana do Tapará.
Alenquer dista de Santarém, em linha reta, cerca de 70 quilômetros. Indo de ferry boat até o Tapará e, de lá, indo pela PA-255, depois pelo ramal do Cuamba (todo asfaltado) e, finalmente, pela PA-427, somam cerca de 141,5 quilômetros.
Distância entre Santarém e Alenquer, via Santana do Tapará. Fonte: Google Earth. |
Será apenas um sonho, meu amigo Cardosinho? Ainda é utopia de cidadãos ximangos? Mas que alenquerense, há cinquenta, sessenta anos, imaginaria a PA-427 (estrada da colônia) e o ramal do Cuamba todo asfaltado, permitindo ir de Alenquer até a comunidade de Santana do Tapará em menos de uma hora e meia? Se alguém falasse isso naqueles tempos seria tratado como um gaiato, fazendo piadas. Ou como um louco. Ou como um "bafento". Ou, como o folclórico prefeito do centenário.
No entanto, está aí. Um trecho de quase de 120 quilômetros de asfalto que facilita o trajeto de nossa cidade natal, Alenquer, a Santarém.
Isto significa que, havendo interesse, tanto dos governos, como também, da população, as coisas podem ser realizadas.
Lembremos que um dos lemas do atual governo do Estado do Pará é a "Integração" do municípios paraenses. E para haver esta integração completa, é necessário ligar as duas margens do rio Amazonas. Tecnologia para isso já existe há muito tempo. O que falta, provavelmente, é vontade política e de mais cobrança da população.
Do ponto de vista ambiental, tenho a convicção de que a construção de uma ponte para unir as duas margens (ainda que necessite de um minucioso estudo), causaria menos impacto do que o enorme número de embarcações de grande porte trafegando diariamente pelos rios da Amazônia, já que estas, além de poluírem o ar e as águas com seus motores a díesel, causam outros danos ao meio-ambiente, prejudicando a fauna e acelerando o fenômeno das "terras caídas" com seus banzeiros.
Caro amigo Cardosinho, a sua crônica é muito relevante, considerando que esse é um assunto que deve chegar mais intensamente e mais rapidamente aos ouvidos dos governos nas suas três esferas, municipal, estadual e federal para que eles tenham a certeza de que esse é um desejo, ao mesmo tempo antigo e atual da população do Baixo-Amazonas, em especial dos alenquerenses.
Quem sabe, amigo, nossa geração ainda venha a desfrutar de tão relevante obra de infraestrutura, que beneficiaria não apenas Alenquer, mas todos os municípios do Baixo Amazonas e suas populações e o Estado do Pará, como um todo.
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Prazado amigo Jabert, quanta honra e alegria saber que você resgatou essa crônica e fez esse texto formidável! Gratidão pelas palavras!! Vamos
ResponderExcluirCaro Cardosinho, você sabe o quanto eu sou um grande admirador seu. Fiquei muito feliz em encontrar sua crônica, pois ela trata de um tema que é um sonho antigo dos ximangos. Foi muito bom resgatar esse desejo do povo alenquerense.
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