Dias de Natal diferentes
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| Imagens da antiga Travessa Ascendino Monteiro Nunes, atual Travessa Antônio Mesquita de Souza, ilustrada por IA, com crianças brincando como antigamente. |
Jabert Diniz Júnior
Era aproximadamente sete e meia da manhã, eu já estava acordado, ansioso para ver meu presente.
Minha mãe me entregou, dizendo que o Papai Noel tinha deixado embaixo da árvore. Um pacote grande. Tratei de abri-lo. Quanta alegria! Era um carrinho de bombeiros. Vermelho, com escada, mangueira, e mais todos aqueles apetrechos pertinentes a um carro de bombeiros de verdade. Era relativamente grande. E já veio com o fio para amarrar na frente pra poder brincar puxando.
Tudo montado, a ansiedade era pra ir pra rua para brincar, exibir pros amigos e também para ver o que eles haviam ganhado.
Mas, antes, tive que tomar meu café da manhã sob a vigilância da minha mãe. "Sem tomar café, não sai!", disse dona Eliete.
E tratei de tomar o café com leite acompanhado de pão com manteiga. Nunca tomei café da manhã tão rápido.
Terminada a refeição, saí correndo, puxando meu brinquedo. Já deviam ser umas oito e tantas da manhã. As ruas perto de casa já estavam começando a encher de moleques. Cada um com seu brinquedo novo.
Joaquim com seu fuscão, Raul e Rivail traziam seus exuberantes caminhões. Kleber e Jader dois invejáveis carrinhos de polícia. Eu, com meu majestoso carrinho de bombeiros, e Fran, o destaque, com seu carrinho a pedal, o famoso "topatudo". Esse, todos queriam experimentar.
Aí, apareceu o Paulão, trazia uma espingarda tal qual a dos filmes de faroeste do cine Ideal. A molecada brincava adoidado. Uma bola de futebol "Canarinho" surgiu. Quem ganhou essa foi Daniel.
Teve moleque que ganhou um jogo de futebol-de-botão, outros um saquinho de peteca ou um pião. Cassete e Antonio apareceram com um balador no pescoço. Guto, meu irmão, estava curtindo sua bicicleta amarela, um brinquedo que já havia sido dos irmãos mais velhos e tinha sido completamente restaurada. Olha aí, a reciclagem/reuso nos anos 1970.
Havia de tudo, mas predominavam os carrinhos de plástico. Caminhões, fuscas, kombis, aviões, barquinhos.
As meninas apresentavam as suas bonecas umas às outras. Teresa Emília, com as vizinhas Suely, Sandra, Alda, Cláudia, Wilsea e tantas outras brincavam felizes, na calçada de suas casas.
O natal de 1975 caiu numa quinta-feira. Eu estava com sete anos de idade.
Naquele dia, naquela manhã de natal, como em outros anos passados e alguns outros posteriores, as ruas Coaraci Nunes e Rosomiro Batista, esquina com a Travessa Antônio Mesquita, ficaram repletas de meninos e meninas, exibindo e brincando com seus brinquedos novos. Era uma farra da molecada.
Nestas mesmas esquinas, nada mais é como antes. Nenhum menino sequer com brinquedo. Aliás, não havia nenhuma criança na rua. Uma tristeza.
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| Travessa Antônio Mesquita de Souza, esquina com a rua Coaraci Nunes, no dia 25 de dezembro de 2025. Vazia. Nenhuma criança à vista. |
Sinais dos tempos? Consequência da vida moderna? Quem é o vilão dessa história? Seria o advento do celular? Os atuais perigos do trânsito? Com a palavra os psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, sociólogos e outros profissionais das ciências humanas.




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