O colecionador de mães

Jabert Diniz Júnior

Quem nunca teve uma coleção? De qualquer coisa que seja. De selos, chamado de filatelia, de moedas, a numismática, de carrinhos de brinquedo, de objetos antigos, de revista em quadrinhos, de figurinhas, enfim... 

No mundo inteiro, há os mais diversos colecionadores, colecionadores dos mais diferentes objetos e objetos dos mais variados lugares.

E as motivações para que uma pessoa adquira o hobby de colecionar também são bem variadas: Pode ser uma paixão, um amor pelo objeto colecionado ou pelo tema; Pode ser porque o sujeito seja nostálgico e queira reviver memórias do passado; Pode ser por preservação, alguém que queira manter viva a história de algo; por investimento, já que o que ela coleciona tem um grande potencial de ganho financeiro futuro; pode ser simplesmente por status, uma vez que a coleção desta pessoa reflete a sua personalidade ou sua riqueza, ou só por diversão mesmo.

Eu, por exemplo, ainda tenho algumas dezenas de chaveiros remanescentes de uma coleção que comecei quando ainda era criança, ou melhor, minha mãe começou pra mim e eu mantive o hábito por anos.  Há chaveiros com mais de cinquenta anos.

Parte da minha antiga coleção de chaveiros.

Mas, embora ainda possua parte da coleção desses chaveiros, percebi que, ao longo da minha vida (especialmente, durante a minha adolescência, quando passei a morar longe da minha mãe) fazia um outro tipo de coleção, uma coleção abstrata: era a coleção de mães, esta, sim, com um enorme valor sentimental.


Percebi que conhecer e saber o nome da maioria das mães dos meu amigos de infância era uma espécie de hobby. Guardar os nomes das mães dos meus amigos na memória remetia à imagem carinhosa da minha mãe. Lá pelos meus quinze aos dezoito anos, longe da minha cidade, da minha mãe e daqueles antigos amigos, ficava a meditar, lembrando dos tempos de moleque, dos amigos da minha feliz infância, e fazia questão de lembrar dos nomes de cada uma das mães deles.

Algumas, provavelmente, deviam também se lembrar de mim, porque eu as perturbei bastante. Nos finais de semana e férias, então, era brincadeira todo dia, o dia todo. Pela manhã cedo e logo após o almoço, naquela hora da sesta, quando os pais já estavam indo para aquela soneca da tarde, eu já estava na porta de um deles chamando os para brincar. Ei, Kleber! Ei, Jader! Ei, Joaquim! EI, fran! EI, Antônio!

Dona Tarcila é umas das mães que me lembro com muito carinho. Era a mãe do Kleber e do Jader. Comparava dona Tarcila à mãe do Cebolinha do Gibi do Maurício de Sousa. Uma mãe de pulso firme, mas zelosa e carinhosa com sua prole.

E lá, na casa da dona Tarcila, eu e mais uma turma, brincavávamos muito. Lembro de quando passava uma manhã inteira brincando de futebol de botão e de outras brincadeiras daqueles tempos, na hora da merenda, dona Tarcila nos brindava com uma deliciosa farofinha de carne.

Dona Maria do Céu é outra que está entre as mães da minha coleção e do meu coração. Mãe do Joaquim e do Júnior. Também frequentei muito a casa desta mãe.

Didi (dona Dione), esta, literalmente, funcionou como uma segunda mãe, era pra casa dela que eu me mudava de vez em quando. E lá, embora Didi tivesse seus filhos verdadeiros, meus primos Jorge, Mário Antônio, Renato e Glorinha, todos, um pouco mais velhos que eu, eu era tratado como um igual, com muito carinho.

Dona Dionor era a mãe do Dodô, Paulo e Ruth Helena; Dona Maria José, a mãe do meu amigo Macarrão (Zezinho); Dona Clena, a mãe meu amigo Fran. Tia Bete, irmã da minha mãe, era  mãe dos meus primos Calilo e Halinzinho; Tia Flávia, mãe do meu primo Sérgio (Cassete). Dona Naíde, mãe do Rivaldo, Guadá e Carlinhos. Dona Maurila era a mãe do Cláudio. Dona Anésia, era a mãe do meu grande amigo Antonio. Dona Jacinta, mãe do Paulão; Dona Zélia se destacava por ser mãe só de meninas, é a mãe das amigas Sueli, Sílvia, Sandra. Professora Carícia, mãe do Guto Valinoto; Dona Clóris, mãe do Daniel; Dona Dalhodete, mãe do Luis Aníbal e Omar Augusto. Dona Arita era avó-mãe do Zezinho, que chamávamos de Zezito, dona Ana Maria, mãe do irmãos Raul e Rivail. Dona Geralda, mãe do Zé Orlando e do Guth.

Embora eu saiba os nomes de cada pai também, são os nomes das mães que fazem parte da minha coleção, uma coleção eterna que, junto ao nome da minha mãe, Eliete, levarei para sempre comigo.


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