Delegado Sargento Cabo Chico








Jabert Diniz Júnior

Em Alenquer era assim. Se o sujeito ganhasse uma alcunha, um nome de chamar, conforme ele ficava conhecido na cidade, não tinha jeito, levaria aquele apelido pra vida toda, ainda que crescesse, se profissionalizasse, se casasse, mudasse de profissão, ou, como neste caso que vamos contar, ascendesse de patente na corporação da PM. Houve as exceções, é verdade. Mas, em regra, era assim.

Como exceção, podemos citar "Zé Bode". Zé Bode é hoje um competente e bem sucedido médico ximango que, ao longo de sua infância e juventude, sempre foi conhecido por esse cognome, mas, depois de devidamente formado em medicina e trabalhando com os seus pacientes, preferiu ser chamado pelo seu nome de batismo, tendo sido essa sua exigência respeitada, e hoje, quase ninguém o conhece mais pelo seu apelido caprino. 

Os apelidos, porém, dão a tônica em muitos lugares no Brasil, especialmente em cidades pequenas. Basta o sujeito ter semelhança com alguém ou com algo, ser meio fora do esquadro, e pronto: já ganha um apelido. E vai crescer e viver com aquele epíteto, geralmente, pro resto da vida. E é melhor nem se aborrecer porque senão piora.

Na minha infância, ainda em Alenquer, a maioria de nós tinha algum apelido, por exemplo: Bita (eu), Bacu, Barriga, Mônica, Cassete, Canário, Cazuza, Macaco, Macarrão, Brejeca, Rato, Canela, Carumbé, Roldão, Boca, Lobão, Galo, Cubaixo, Polega, Coruja, Capim, Pelado, Teba, Bigu, Taco, Totó, Cufeio, Banha, Metralha, Catitu, Nhango, Calango, Dodô, Careca, Brucutu, Boto, Cocó, Musiquinha, Binha, Trouxa, Cuzita, Cafurina, Jaburara, etc.

Cabo Chico foi um desses personagens Ximangos, muito gente boa e conhecido de toda a cidade. Mas jamais perdeu a sua velha patente (que virou sua alcunha), embora tenha ascendido profissionalmente.

É evidente que Cabo Chico já foi um soldado, passo inicial e necessário para alcançar a patente de cabo. Mas como soldado não fora famoso. Foi quando se tornou Cabo que passou a ficar conhecido na cidade - "Cabo Chico".

E Cabo Chico foi por muito tempo chefe do destacamento da Polícia Militar na cidade. Nesse período, tudo com relação à segurança pública era com o Cabo Chico. Qualquer bronca, chama o Cabo Chico! Cabo Chico pra cá, Cabo Chico pra lá, Cabo Chico resolvia.

Mas, Cabo Chico, naturalmente, queria subir na carreira que abraçou. Então, com o passar dos anos, o Cabo, por seus méritos e atos de bravura, tornou-se Sargento. Sim, subiu de patente na corporação. Agora era Sargento Chico. Sargento Chico??? Não! Nem parece a mesma pessoa desse jeito! Não pegou, não soou bem! Todos já o conheciam como Cabo Chico. Sargento Chico??? "E agora?, se peguntavam os ximangos. Como chamar o homem???

Então, quando um dia precisaram acionar a PM para apaziguar uma intercorrência em uma festa num clube da cidade, ligaram para a Delegacia de Polícia. Ao atenderem o telefone, o sujeito que ligou, ainda meio em dúvidas, solicitou: "Por favor, passe para o... o... chefe do destacamento, o "Sargento Cabo Chico!" Isso mesmo, Sargento Cabo Chico. Já imaginou o Recruta Zero com a patente de Sargento? Sargento Zero? Não, não ficaria legal, não!

E quando num determinado período - curto período de tempo, ao que se sabe - o Sargento assumiu também a função de delegado da cidade, não houve quem o chamasse de Delegado Chico. Aí mesmo é que não tinha sonoridade, não caía bem mesmo. Delegado Chico? Não! Então, nesse período, o antigo e bonachão Cabo Chico virou o "Delegado Sargento Cabo Chico".

Já na reserva, aposentado de suas funções militares, o ex-delegado Sargento Cabo Chico, hoje só quer saber de jogar um dominozinho com seus amigos ali pela ilharga da Matriz de Santo Antônio.

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