Palavrão? Não, nome próprio!



Da coletânea: Lampejos da Memória II

Por Jabert Diniz Júnior - Santarém,Pa

Palavrão? Não, nome próprio. 

O que é um palavrão?

Segundo os dicionários da língua portuguesa, palavrão pode ser uma palavra grande e de pronúncia difícil (ex.: otorrinolaringologista). Mas pode ser também uma palavra obscena, grosseira, ofensiva ou pornográfica.

Nesse sentido, a palavra "cu" é um palavrão? 

Bem, fazendo uma busca pela internet, pelo que tudo indica, a palavra "cu" é uma forma reduzida do latim vulgar 'culus', que significa ânus, nádega. Em Portugal e em outros países lusófonos, foi mantido o segundo significado, enquanto no Brasil, só o significado de ânus ficou. E com o tempo, transformou-se em palavra chula, um palavrão.... apesar de monossílaba.

Então, sim, a palavra "cu" é um palavrão no Brasil, mas é um termo comum e não ofensivo em países como Portugal, por exemplo. 

Mas, na minha pequena cidade - e me refiro 'pequena', relembrando meu tempo de criança e pré-adolescência, nas décadas de 1970 e 1980, quando ela era menor e menos populosa - o substantivo 'cu',  acompanhado de um adjetivo, ou uma locução adjetiva, ainda que continue hoje a ser uma "palavra feia", um termo chulo, acabou se transformando em nome próprio de alguns conterrâneos contemporâneos meus.

Penso que tais nomes, num primeiro momento, até foram dados com o caráter ofensivo, pejorativo, num período em que sequer conhecíamos o termo "Bullying".

Porém, com o tempo, os sujeitos acabaram se acostumando e aceitando o apelido como seu segundo nome.

Na verdade, tornou-se o primeiro nome, porque tenho certeza que a maioria das pessoas que os conhecem não sabem o nome de batismo deles. E, se alguém na rua, os chamar pelo seu verdadeiro nome, é  possível que nem atendam, achando que não é com eles que estão falando. 

Agora, se chamarem: - Ei, "Cu Baixo"!, para aquele sujeito franzino, que está 'descendo a serra', passando pela Pracinha, pela rua Antonio Mesquita de Sousa, indo lá pra "beira" do rio Surubiú pescar uns peixinhos denominados 'pacu e aracu', 'concertezamente', ele vai imediatamente atender ao chamado.

"Cu Baixo" é um amigo de infância, bom de bola naqueles tempos, irmão de um cantor e compositor famoso de Alenquer (cuja música já foi tema de novela da Rede Globo), e que há muito tempo adora pescar.

Um outro morador da cidade, cuja alcunha tornou-se o seu primeiro nome, é o "Cu de Agulha". "Cu de Agulha" morou na casa do seu Nelson Santiago desde garotinho. Hoje já é um senhor, beirando os 60 anos, provavelmente. 

O "Cu Feio" é um outro personagem conhecido da cidade.  assim como o "Cu de Sapo" e o "Cu de Sola". Ainda havia o "Cu de Gancho", um famoso empresário ximango do ramo do transporte fluvial".

Aliás, cabe aqui contar um fato curioso sobre dois desses personagens, que me foi relatado pelo Nhango (Edson Simões): Certa feita, numa escola de Alenquer, estudavam na mesma sala o "Cu Baixo" e o "Cu Feio". A professora pediu ao Cu Baixo para apagar o quadro negro - chamando pelo seu nome de batismo, naturalmente. Mas antes de ele apagar tudo, que era o assunto para a prova no dia seguinte, o Cu Feio grita lá do fundão: - Ei, Cu Baixo, não apaga que ainda não terminei de copiar! A professora, indignada e furiosa, dizendo que ia levar o "boca suja" pra diretoria, perguntou: - Quem falou esse palavrão? E o Cu Baixo, com a maior naturalidade, apontando o dedo, respondeu: - Foi o Cu Feio, professora! A professora, desconcertada, não puniu ninguém...

E assim, o termo "cu", tão ofensivo em determinadas circunstâncias, em nosso País,  originou "nomes" de diversos personagens da minha cidade natal.

Personagens que não devem nunca ser esquecidos.


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