Saúde Pública
Saúde Suplementar: um descaso total com a saúde
E o tal juramento de Hipócrates ainda tem a importância que deveria?
Por: Jabert Diniz Júnior - Santarém, Pa
Era segunda-feira, 05 de agosto de 2002. Ligo para um consultório para marcar uma consulta, a secretária atende.
- Consultório médico, bom dia, como posso ajudar?
- Bom dia, gostaria de marcar uma consulta com um ortopedista, por favor.
- Pois, não. Qual o seu nome, senhor?
Me identifico e ela continua.
- Qual é o convênio, senhor?
- Unimed.
- Só um momento, por favor... Senhor, temos vagas para quinta-feira, dia 08, pela manhã, pode ser?
- Sim, pode ser.
- Então está agendado, quinta-feira, dia 08, pela manhã, a partir das 08 horas, por ordem de chegada, tudo bem?
- Está sim, muito obrigado.
Apenas três dias de espera para ser atendido. Era sempre assim há pouco mais de 20 anos, quando ainda morava em Belém e tinha o plano de saúde Unimed Belém, uma espera de no máximo uma semana para ser atendido.
Atualmente, outubro de 2023, morando em Santarém e adepto do plano Unimed Oeste do Pará, ligo para um consultório e a secretária atende.
- Consultório Médico, bom dia, em que posso ajudar?
- Bom dia, gostaria de marcar uma consulta com um ortopedista...
- Pois não, senhor. É particular ou convênio?
- Convênio, unimed....
- Humm..., a agenda desse mês já está fechada, senhor... vamos ter vaga somente para... hummm.... só um momento.... para dezembro....
- Opa, (eu, já feliz por ter uma vaga, ainda que para quase dois meses depois) tudo bem, pode marcar....
- Dezembro de 2024, senhor....
Imagem da web. fonte: https://asmetro.org.br/portalsn/2017/11/27/o-que-muda-nos-planos-de-saude/ |
Exageros à parte, nos últimos dois anos, isso tem ocorrido recorrentemente, seja com ortopedista, urologistas e vários outros “istas”... Se é particular, tem vaga, se é plano de saúde, a agenda dos próximos meses já está completa.
Para desencargo de consciência, inclusive, outro dia fui diretamente a uma clínica tentar marcar uma consulta muito necessária com um ortopedista.
Diante de mim, a moça já ia agendar a consulta, quando ela se lembrou de fazer a famigerada pergunta: "É particular ou convênio?" Quando respondi que era convênio, outra vez recebo um “não” como resposta, com a informação de que a cota de convênios já estava completa, a agenda do mês já estava cheia e só a partir do próximo mês seria possível ela verificar se haveria vaga.
Vale ressaltar que, caso fosse particular, no entanto, a consulta seria marcada imediatamente.
O que está acontecendo com a tal saúde suplementar no Brasil que, segundo a Constituição Federal, é o conjunto ações e serviços desenvolvidos por operadoras de planos e seguros privados de assistência médica à saúde e que não têm vínculo com o Sistema Único de Saúde? Essa atividade está regulamentada pela lei federal nº 9.656/1998.
Dizem que está em crise, que falta regulação dos planos de saúde, tema que já conta com mais de 270 projetos acumulados no Congresso Nacional. E enquanto o Estado brasileiro não consegue implementar esta regulação, o principal prejudicado é o usuário.
Isso acaba desembocando num fenômeno que para alguns especialistas já era previsível: o aumento da judicialização da relação entre seguros e seus usuários, tendo como resposta das empresas uma tática nefasta que é a suspensão unilateral de planos de clientes que demandam tratamentos mais caros.
Sem querer jogar a conta nas costas dos profissionais, nesse caso os médicos, até porque não cabe, vale lembrar que no ato de sua formatura todos eles - os médicos - fazem o Juramento de Hipócrates, que é um ato solene e tradicional quando do término de sua formação acadêmica, que diz o seguinte:
Como membro da profissão médica:
» EU PROMETO SOLENEMENTE consagrar minha vida ao serviço da humanidade;
» A SAÚDE E O BEM-ESTAR DE MEU PACIENTE serão as minhas primeiras preocupações;
» RESPEITAREI a autonomia e a dignidade do meu paciente;
» GUARDAREI o máximo respeito pela vida humana;
» NÃO PERMITIREI que considerações sobre idade, doença ou deficiência, crença religiosa, origem étnica, sexo, nacionalidade, filiação política, raça, orientação sexual, estatuto social ou qualquer outro fator se interponham entre o meu dever e meu paciente;
» RESPEITAREI os segredos que me forem confiados, mesmo após a morte do paciente;
» EXERCEREI a minha profissão com consciência e dignidade e de acordo com as boas práticas médicas;
» FOMENTAREI a honra e as nobres tradições da profissão médica;
» GUARDAREI respeito e gratidão aos meus mestres, colegas e alunos pelo que lhes é devido;
» PARTILHAREI os meus conhecimentos médicos em benefício dos pacientes e da melhoria dos cuidados da saúde;
» CUIDAREI da minha saúde, bem-estar e capacidades para prestar cuidados da maior qualidade; e
» NÃO USAREI os meus conhecimentos médicos para violar direitos humanos e liberdades civis, mesmo sob ameaça.
» FAÇO ESTAS PROMESSAS solenemente, livremente e sob palavra de honra.
Fonte:
https://www.crmpr.org.br/Juramento-de-Hipocrates-1-53.shtml
https://outraspalavras.net/outrasaude/aumento-da-judicializacao-na-saude-privada-exige-novo-molde-regulatorio/
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