Anjos na Terra

A fantástica equipe de pequenos colaboradores de Albeiro Vargas.
Fonte: www.bbc.com 

Jabert Diniz Júnior

O que nos moveria em direção a atitudes altruístas, deixando de lado nossos afazeres, nosso lazer, nossos prazeres, para dedicar um tempo para praticar algum tipo de caridade?

Exemplos de pessoas que fazem ou fizeram isso são inúmeras, sem sombra de dúvidas: Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Chico Xavier, Divaldo Franco, Padre Júlio Lancellotti... Isto, só pra citar alguns que são bem famosos.

Há muita gente praticando o bem e que ficam no anonimato. Porém, quando estas atitudes, por alguma razão, são noticiadas, muitas vezes não damos a devida atenção. Ainda não estamos nesse nível.

Então, qual o caminho que nos leva a nos interessar, ler ou assistir a histórias tocantes de pessoas que se dedicam a ajudar outras? Histórias que, sim, podem nos influenciar ou nos orientar no sentido de praticar o bem?

Às vezes, uma indicação; um ofício (trabalho); o acaso, enfim, várias podem ser as razões que podem nos dar a oportunidade de conhecer e valorizar pessoas que são verdadeiros anjos na terra. 

Há quase dez anos, fui convidado a assistir a um documentário. Foi a oportunidade que tive de conhecer a história de Albeiro Vargas, "o pequeno anjo da Colômbia".

Albeiro Vargas: o pequeno anjo da Colômbia. 
Fonte: www.bbc.com

Albeiro tinha apenas oito anos de idade e foi, de fato, um verdadeiro anjo para os velhinhos de Bucaramanga, uma cidade na região norte da Colômbia. Um menino que trocou as brincadeiras por ajudar os idosos da redondeza do bairro pobre onde morava.

(Caso encontre um tempo na sua vida - que deve ser muito corrida - assista ao documentário abaixo. Fica o convite.)

Nesses dias (outubro de 2025), ao lembrar novamente da história que conheci há quase dez anos, por curiosidade, fui procurar saber como estava hoje Albeiro Vargas.

Dr. Albeiro Vargas. O pequeno anjo da Colômbia, hoje, médico, comemorou 39 anos de trabalho com idosos.
Fonte: www.bbc.com

Para minha grata surpresa, ao pesquisar na internet, encontrei uma entrevista com o jornalista Tony Comitti. Uma matéria da BBC News, de março de 2024, a respeito do garoto e de como ele se tornou famoso ao comover jornalistas internacionais há mais de trinta anos, levando a França fazer generosas doações a Albeiro.

Albeiro Vargas se tornou internacionalmente famoso graças ao jornalista francês Tony Comitti, que há anos fazia cobertura da tumultuada Colômbia nos anos 1980 para um dos principais canais da França.

Comitti contou à BBC News Mundo que estava no cabeleireiro quando, quase por acaso, viu a história do "anjo" no jornal El Tiempo. 

Matéria publicada pelo jornalista local Euclides Ardila. Primeira reportagem de Albeiro para um Jornal.
Fonte: www.bbc.com

Ele achou que era apenas uma "história positiva", algo para motivar as pessoas. Não imaginou, naquele momento, que seu encontro com Albeiro iria promover um movimento de apoio e reconhecimento internacional que resultaria em uma fundação que ajuda hoje quase 500 idosos em estado de vulnerabilidade no departamento de Santander,  na Colômbia.

Naquele momento em que leu a história pela primeira vez, o jornalista disse que começou a planejar como faria uma reportagem com o garoto.

“Pensei em passar três ou quatro dias com o menino. Naquela época, não havia internet nem celular, então a única forma de entrar em contato com ele era ir procurá-lo”.

Ao chegar em Bucaramanga com câmeras e equipamento e entrar no táxi, o taxista,  ao escutar para onde estava indo, lhe disse que estava louco e que iam lhe roubar. Mas Comitti o mandou seguir em frente. 

Chegando ao local, Comitti conta que só precisou perguntar a uma pessoa pelo “anjo". Na mesma hora o levaram até ele.

Comitti, que ainda hoje se emociona, conta que foi muito impactante quando viu Albeiro pela primeira vez. Ele relembra que o menino de oito anos estava ensinando um idoso a ler e escrever.

"E ele me disse que eu poderia segui-lo. Então fiz isso, e nos três dias seguintes o vi fazer coisas absolutamente incríveis”.

Então, a reportagem que Comitti havia planejado inicialmente ter uma duração de três ou quatro minutos, virou um documentário de quase meia hora.

Comitti acompanhou e filmou Albeiro  fazendo o que o tornou famoso, como indo às pressas ao banco para pagar o aluguel de uma idosa que estava sendo despejada de casa; e coletando alimentos do comércio local para levar aos velhinhos.

Comitti relata que, numa cena impactante, Albeiro entrou na casa onde uma idosa estava trancada com cadeado e a levou para dar banho.

A senhora sofria de um estado avançado de demência, e a filha tinha que deixá-la trancada em casa com o intuito de protegê-la.

Albeiro, junto a outras crianças que o ajudavam, notaram que as temperaturas na casa improvisada ficavam insuportáveis ​​durante o dia, e usavam a chave que a filha deixava escondida para dar banho nela na sua ausência.

Com as imagens editadas em mãos, Comitti, em Paris, lembra que as mostrou a pelo menos dois colegas e que, assim que eles as viram, começaram a chorar.

Comitti esperava uma reação forte do público francês, mas o que aconteceu foi algo extraordinário, lembra o jornalista.

A rede de televisão recebeu muitas ligações de pessoas que queriam ajudar o “menino que havia trocado brincar por ajudar os idosos”.

Uma das maiores doações veio de uma mulher que “decidiu dar o que tinha, porque era viúva e não tinha filhos nem ninguém para quem dar”, lembra Comitti. 

O programa também gerou frenesi no público, que queria conhecer aquele menino que, apesar de tantas dificuldades e tão pouca idade, fazia tanto bem à sua comunidade.

Comitti, no entanto,  se lembra com amargura daquele momento e afirma ter rejeitado a ideia do canal de levar o menino e a mãe para a França, com o intuito de fazer o habitual tour midiático dos acontecimentos da moda.

Comitti disse que aquele não era o seu trabalho.  Aquilo lhe parecia terrível.

Mas a viagem aconteceu, mesmo sem a participação de Comitti. E o que ele temia que acontecesse, aconteceu, como relatou Albeiro:

“As pessoas me diziam: Alberro, Alberrito, Albergo. Elas queriam tocar em mim, e eu não entendia o que estava acontecendo."

“Lembro que me mudaram de hotel, mudaram meu nome porque muitos jornalistas queriam dar o furo. Queriam ver o Anjo da Colômbia, e esse canal de televisão me colocou em uma bolha. Foi uma coisa impressionante”.

Um tempo depois, já na Colômbia, Albeiro recebeu um convite da embaixada francesa para receber um cheque simbólico com os recursos que os franceses haviam doado após assistir ao documentário.

Quando Albeiro, um garoto de oito anos, comentou com um amigo sobre o cheque simbólico que receberia em Bogotá,  ele disse: "Bobo, vão te roubar, simbólico é de mentira, falso”.

“Estavam o diretor do canal de televisão que veio da França e a esposa do presidente da Colômbia. E me disseram: 'Albeiro, sorria para as câmeras, vamos te dar um cheque'. E eu disse a eles: 'Não, senhores, me entreguem o dinheiro, não vão me roubar.'"

Então lhe xplicaram que ele teria acesso ao dinheiro quando fizesse 18 anos, Albeiro respondeu.

"Bom então não me importo nem estou interessado porque quando eu tiver 18 anos os velhos já terão morrido de frio e fome."

A resposta de Albeiro  deixou todos em silêncio.

Então resolveram fazer um acordo segundo o qual tanto a mãe como o embaixador eram os guardiões do dinheiro.

Dessa forma, Albeiro conseguiu continuar fazendo o seu trabalho e começou a pensar em expandir a ação.

Como uma das suas primeiras ações,  comprou uma casa abandonada perto de Bucaramanga, que se expandiu e hoje abriga quase 500 idosos das áreas vizinhas em situação de pobreza.

Fundação Albeiro Vargas: conta atualmente com três casas e atende quase 500 idosos em sua área
Fonte: https://www.bbc.com

O jornalista francês Tony Comitti que tem uma foto do pequeno Albeiro na entrada de sua produtora na França, já que a empresa existe graças ao documentário “O anjo do norte”, fez a seguinte citação: “Às vezes é incrível como uma pessoa pode impactar tantas vidas”.

Fontes pesquisadas: www.bbc.com

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