A Mixaria

A Mixaria

 Da coletânea “Lampejos da memória"

Por Jabert Diniz Júnior

Gafes, gafes e muitas gafes... em algum momento da vida, todos as cometemos. Algumas a gente se dá conta de imediato e, dependendo do ambiente, do momento e da gravidade, o rosto fica corado e a gente fica com vontade de enterrar a cabeça no chão de tanta vergonha. E nunca sequer desejamos lembrar daquele momento constrangedor. Outras, no entanto, a gente nem percebe que cometeu um deslize naquele momento, mas atinge alguém que, invariavelmente, pode até ter se magoado.

 Esta que vou contar é uma delas, e só vim  saber que foi uma gafe quase quarenta anos depois. E foi com meu pai. E foi apenas mais uma das várias que cometi. Gafe, na realidade, talvez seja um termo muitas vezes utilizado para tirar o peso de malcriações que a gente, ao longo da vida, comete, com nossos pais e/ou com outras pessoas. E foi assim que aconteceu...

 

Uma certa vez, quando ele, meu pai, me mandou dinheiro, (mais uma das inúmeras vezes ele nos mandou ao longo do tempo em que eu e meus irmãos moramos em Belém). Não lembro que idade eu tinha, uns dezoito, dezenove, talvez. Não sei quanto ele me mandou também, enfim. Ao falar com ele ao telefone (orelhão), ele me perguntou: - Já recebeu o dinheiro com o seu tio, meu filho? (Ele tinha mandado na conta do irmão dele, meu tio). Inconscientemente e com bastante naturalidade, respondi: - Já, pai, já peguei a "mixaria". Mixaria?? Mal sabia como isso tinha magoado o "Velho". Mixaria??? Naquele momento, meu pai, o sujeito mais sábio que já conheci, não fez nenhum comentário.

 


Quase quarenta anos depois, no entanto, batendo papo com ele embaixo da parreira de casa (casa deles), em Alenquer, ele lembrou desse fato. Foi quando fui saber que ele tinha ficado um tanto chateado naquele dia, quando falei que havia recebido a tal "mixaria" que ele tinha me mandado. Ele, que, para arrumar o dinheiro com a maior rapidez possível, tinha vendido um mamote do seu pequeno rebanho de gado, para mandar o quanto antes pra gente, que naquele tempo ainda dependíamos quase que totalmente dos recursos que eles, meus pais, seu Jabert e dona Eliete, nos mandavam.

 

Eu, meio que envergonhado do meu pai, tentei explicar pra ele o que parece que não tinha explicação, e não o convenci muito que aquele termo era uma gíria: - Pai, mixaria, naquele tempo, era uma gíria pra gente. A gente falava com muita frequência isso. Não sei se o convenci, mas pelo menos eu tive a oportunidade de me explicar e me desculpar (rs).

Eita, paizão, obrigado por aquela e tantas outras providenciais "mixarias" enviadas para nos manter na capital estudando.




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