Um paparazzo ximango no RJ

Jabert Diniz Júnior

Todo repórter que se preze tem fome de notícia. E ainda mais: Que jornalista não ficaria feliz e realizado profissionamente com a autoria de um furo de reportagem?

No meio jornalístico, um furo é o jargão para a informação publicada em primeira mão. É uma informação exclusiva e relevante que é divulgada pela imprensa antes de qualquer outro veículo de comunicação. Geralmente, é resultado de uma investigação jornalística profunda e de fontes confiáveis. Essa informação pode ser um escândalo político, uma revelação chocante, uma notícia importante que ainda não foi divulgada publicamente, ou, às vezes, simplesmente a fotografia de uma figura famosa.

Um repórter, ou um paparazzo, invariavelmente, se utiliza de informantes que lhes dão a dica de alguma coisa que está prestes a acontecer ou, no caso dos paparazzi, se figuras famosas vão estar em determinados lugares para que eles possam fotografá-las com exclusividade.

Mas, naturalmente, é preciso checar a informação antes para evitar a "barrigada" (outro jargão jornalístico, este para o erro do repórter).

Só para exemplificar, podemos citar Ricardo Boechat que era um desses repórteres obcecados por uma notícia em primeira mão. Ao longo de 15 anos em que ele assinou uma coluna diária no GLOBO, ele publicou incontáveis furos de reportagem e desenvolveu um estilo próprio de lidar com a informação exclusiva, colocando seu nome em uma das principais grifes do jornalismo nacional.

E um dos trabalhos jornalísticos mais relevantes de Boechat foi publicado fora da sua coluna. No dia 20 de outubro de 1991, a manchete do GLOBO  informava que o Exército homologaria, no dia seguinte, a compra de uniformes e roupas de cama e banho com preços superfaturados. A concorrência havia sido lançada dois meses antes e decidida antes da publicação da reportagem, assinada apenas pelo jornalista Rodrigo França Taves. Boechat teria omitido seu nome dos créditos para proteger sua fonte nas Forças Armadas.

Primeira página de 21 de outubro de 1991, com reportagem de Boechat na manchete / Acervo de O GLOBO.
Fonte: O GLOBO

Jorge Bastos Moreno foi outro jornalista brasileiro, colunista do jornal O Globo, onde escrevia semanalmente sobre política, e era dono do Blog do Moreno, onde tratava de política num estilo informal, com informações dos bastidores do poder em Brasília.

Um dos grandes furos de Moreno selaria a história do primeiro presidente eleito no país, desde 1960.

Durante o impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992, quando a própria CPI que investigava o empresário Paulo César Farias (braço direito de Collor), procurava uma prova cabal que ligasse o presidente aos cheques de "fantasmas" que vinham do esquema do seu tesoureiro de campanha, foi Moreno quem revelou, em 23 de julho, que um Fiat Elba de propriedade do presidente tinha sido comprado pelo "fantasma" José Carlos Bonfim.

Uma informação que ainda não era do conhecimento nem do relator da CPI, deputado Benito Gama, nem de seu presidente, Amir Lando. (fonte: O GLOBO).


Em novembro de 1965, meu pai, um comerciante e pequeno pecuarista da cidade de Alenquer-Pa, então com 30 anos e minha mãe (23), casados há quatro anos, estavam turistando no Rio de Janeiro, aproveitando uns dias de férias.

Quando visitavam alguns pontos turísticos da Cidade Maravilhosa, no bairro da Glória (já haviam passado pelo Museu de Arte Moderna) e se encontravam no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, popularmente conhecido como Monumento aos Pracinhas, eles perceberam uma grande movimentação de repórteres por ali.

Ao perguntar para algumas pessoas o que se passava, responderam-lhe que  encontrava-se ali o senador Robert Kennedy, irmão do ex-presidente dos EUA, John Kennedy, em visita ao Brasil. E todos queriam fazer um registro daquela autoridade americana, ainda que fosse somente um retrato de longe.

Querendo sair daquela confusão e entrar no local que homenageia os combatentes brasileiros da segunda guerra mundial, meu pai e minha mãe se dirigiram rapidamente para o outro lado do monumento. E, para a surpresa deles, naquele exato momento, para escapar dos repórteres, por ali estava saindo o senador Bob Kennedy ao lado de militares e outras autoridades brasileiras. Estávamos em plena ditadura militar.

Meu pai, que procurava fazer registros do seu passeio com uma pequena máquina fotográfica, rapidamente  apontou e disparou um click, fotografando o famoso senador americano que, no dia 06 de junho de 1968, pouco menos de três anos depois, foi assassinado na cozinha do Ambassador Hotel, em Los Angeles, durante uma visita de sua campanha de pré-candidatura à presidência dos EUA. 

Sem querer, então, meu pai acabou atuando, naquele momento, como o que hoje é conhecido por paparazzo. Muito embora a fotografia por ele tirada nunca tenha sido publicada... até hoje. 

Fotografia inédita de Robert Kennedy, em visita ao Brasil, em novembro de 1965 (plena ditadura militar), saindo do Monumento aos Pracinhas, Rio de Janeiro.
Fonte: Jabert Soares Diniz


Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial: fotografia recente. Local por onde saiu e foi fotografado Robert Kennedy em 1965.
Fonte: Google earth

Ainda que não seja um furo de reportagem, é provável que muitos brasileiros não saibam. Mas Bob Kennedy esteve pela primeira vez no Brasil em 16 de dezembro 1962, quando ainda era secretário de justiça dos EUA, a mando do seu irmão JFK, que era o presidente americano, para um encontro secreto com o presidente brasileiro João Goulart. 

Em caráter sigiloso, Bob Kennedy tinha como missão específica encostar o presidente brasileiro na parede, exigindo dele uma posição ideológica. Segundo a Folha de São Paulo (12/08/2001), Bob devia atrair politicamente o presidente brasileiro em troca de empréstimos.

Menos de dois anos depois, dia 31 de março de 1964, aconteceu o que todos sabemos, o presidente Jango foi deposto, sendo instaurada a nefasta ditadura militar no Brasil.


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